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Princípios do Método Montessori

A abordagem pedagógica de Maria Montessori não segue um conjunto rígido de princípios, mas é baseada em características da sala de aula, dos materiais, do professor e das crianças, que encontram o seu próprio equilíbrio. A lista de princípios que é encontrada na internet e em livros foi criada por outros educadores, como Edimara de Lima, com o objetivo de organizar e tornar mais claras as ideias de Montessori. No entanto, essa lista não deve ser considerada como uma representação completa e definitiva do método Montessori, pois Montessori não estabeleceu uma organização específica para as suas ideias. Diferentes listas de princípios podem existir, mas isso não significa que uma seja mais correta do que a outra.

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Autoeducação

A abordagem pedagógica de Maria Montessori foi baseada na observação do comportamento das crianças em liberdade, resultando na ideia de que as crianças são capazes de aprender sozinhas. Para que a autoeducação ocorra, é necessário oferecer à criança o contexto adequado, que inclua a oportunidade de ver outras pessoas realizando atividades, experimentar e testar sem interrupção, perceber seus próprios erros e corrigi-los e superar pequenas dificuldades ao seu próprio ritmo. O método Montessori inclui materiais específicos que são projetados para serem manipulados pela criança, trabalhar um novo desafio de cada vez e dar à criança a chance de perceber seus próprios erros. Com a liberdade de escolher e repetir os exercícios quantas vezes desejar, a criança se autoeduca constantemente.

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Educação Cósmica

A Educação Cósmica é uma abordagem pedagógica baseada na ideia de que as crianças nascem com uma curiosidade natural pelo mundo e que é possível mantê-la acesa por meio de perguntas, histórias e pesquisas. A educação visa oferecer às crianças uma Visão Cósmica do mundo, permitindo que elas compreendam a ordem e a conexão entre as coisas. Isso é feito respeitando o currículo oficial e alimentando a percepção de que tudo pode ser descoberto e compreendido de forma interessante. A Educação Cósmica busca dar aos conceitos um sabor de estrelas, fazendo com que as crianças sintam a união com tudo o que há no mundo.

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Educação como Ciência

A maior parte da educação das crianças é baseada em crenças e experiências individuais. Educo meus filhos e meus alunos como meus pais e meus professores educaram a mim. Faço as coisas como faço porque acho que isso funciona. Acho que a família e a escola devem ser organizar de um jeito, e não de outro, porque acredito em algumas coisas, e não em outras.

Particularmente, a estrutura de escola que temos hoje deriva de um conjunto de crenças e modos de agir do meio do século XVIII, a época da Revolução Industrial: filas de cadeiras, o mesmo conteúdo, ao mesmo tempo, para todo mundo, imobilidade e submissão dos alunos, e prêmios e castigos como forma de disciplina.

Quando Montessori começou a trabalhar com as crianças de São Lourenço, já sabia que essa abordagem não era a melhor. Mas em lugar de estabelecer uma nova pedagogia, de acordo com suas próprias crenças, ela escolheu deixar um grupo de crianças em liberdade, em um ambiente semiestruturado, e observar seu comportamento, para depois pensar uma educação que não partisse das crenças do adulto, mas do desenvolvimento natural das crianças [17].

É assim até hoje: nas casas e escolas montessorianas, antes de decidirmos fazer qualquer coisa importante (desde apresentar um material novo, até interrompermos o que parece ser uma má ação da criança), nós paramos e observamos, para tentar compreender quais as necessidades reais da criança e qual a melhor abordagem a adotar, com cada criança, a cada momento [15].

É isso que faz do método Montessori uma abordagem pedagógica que dá às crianças a chance de atingirem um excelente desempenho acadêmico [18]e, ao mesmo tempo, usufruírem de um grande prazer enquanto estão na escola [19], inclusive e especialmente durante tarefas acadêmicas desafiadoras.

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Ambiente Preparado

O método Montessori acredita que a liberdade é fundamental para o desenvolvimento da criança. Para a criança ter a liberdade que lhe é biológica, ela precisa de um ambiente preparado e seguro, com nutrientes físicos, emocionais, mentais e sociais. A primeira condição para o ambiente ser libertador é que tudo o que é importante seja acessível para a criança, sem precisar de ajuda ou autorização do adulto. Isso inclui coisas básicas como beber água, comer, usar o banheiro e dormir. Além disso, o mundo deve ser adaptado para a criança, com tudo à sua altura ou fornecendo banquinhos para acessar coisas mais altas.

Além disso, o ambiente não deve ser hiperestimulante, mas sim tranquilo, com cores claras e neutras, e a mobília da criança deve ser minimalista. Não é necessário ter muitos brinquedos, mas sim poucos e de boa qualidade. Tudo no ambiente deve ser funcional, e a criança pode cuidar, limpar, organizar e proteger os objetos.

Assim, a criança tem a liberdade de viver sua vida plenamente, e respira a liberdade que é essencial para o seu desenvolvimento. O método Montessori acredita que o ambiente é fundamental para o bem-estar da criança, e que é preciso criar um ambiente preparado e libertador para que a criança possa florescer.

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Adulto Preparado

Todos os outros princípios só funcionam quando o adulto que interage com a criança se esforça para se transformar interiormente. Montessori dizia que precisávamos abandonar o orgulho de sermos adultos, e a ira contra a criança que não comporta das formas que são mais cômodas para nós [23]. É necessário que o adulto passe pela constante humilhação de respeitar a criança em todas as suas necessidades – e é claro que aos poucos deixamos de nos sentir humilhados, mas precisamos atravessar o pântano do respeito pela criança para descobrirmos a luz do outro lado. Desde o início, precisamos contar com “uma forma de fé, de que a criança irá se revelar por meio do trabalho”[21].

Se por um lado, a preparação do adulto é profunda, psicológica, quase espiritual, por outro ela também é exigente na técnica. O adulto preparado é um observador que confia na criança e busca nos atos dela as indicações de suas necessidades [15]. Com a observação realizada, pela configuração do ambiente e pelas interações, esse mesmo adulto tenta oferecer os meios para que a criança satisfaça aquilo que é importante e supere aquilo que ainda é um desafio ou um obstáculo.

Esse adulto nunca ajuda mais do que o mínimo necessário, abstém-se de colaborar sempre que a criança acredita que pode agir sozinha e garante, a todo momento, que sua presença possa ser sentida caso seja necessária [22]. A alegria deste adulto é dupla: ser cada vez menos necessário, e ter a chance de observar a vida se desenvolvendo.

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Criança Equilibrada

Quando as crianças são bem pequenas, seu pensamento e suas ações andam juntos. Mente e corpo, ou, nas palavras de Montessori [5], vontade e ação. Quando um bebê chacoalha um chocalho, não faz isso pensando no passeio que vai dar à tarde, ele está inteiro com o chocalho, mente e corpo, vontade e ação. Mas quando as crianças crescem e tentam fazer coisas mais complexas do que usar um chocalho, nós temos medo. Impedimos que elas subam escadas, ajudamos quando vão abrir uma gaveta, interrompemos quando elas passam tempo demais lavando as mãos. Isso, aos poucos, produz uma separação entre a vontade, que fica na escada, querendo subir, e a ação, que fica na frente da televisão, assistindo um desenho, porque foi lá que nós achamos seguro colocar a criança.

Essa separação da vontade e da ação produz instabilidades de todo tipo no desenvolvimento da criança. Ela pode ficar com os movimentos desordenados, irritável, agitada, ou pelo contrário, letárgica, desinteressada de tudo, submissa. As duas coisas são desvios em relação ao desenvolvimento que ocorreria se a criança tivesse a liberdade biológica para se desenvolver plenamente [23]. Mas há caminhos para retornar a um curso mais equilibrado de desenvolvimento, e a criança faz isso quando se empenha, com concentração e alegria, em atividades interessantes e desafiadoras que exijam movimento do corpo e aperfeiçoamento inteligente das ações realizadas.

Em Montessori, chamamos esse tipo de atividade de “trabalho” [23]. A primeira função do trabalho é ajudar a criança a alcançar a concentração. Quando a mente e o corpo (vontade e ação) retornam a um só centro, todos os desequilíbrios diminuem, e muitos desaparecem, conduzindo a criança a um estado mental que envolve concentração e alegria, e conduz à independência, iniciativa, autodisciplina, generosidade, prazer pelo esforço e confiança em si mesma [23, 29]. Há pelo menos dois ou três nomes para este processo na obra de Maria Montessori, como normalização e conversão [2]. 

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Referências

[1] Lillard, L. Montessori: The Science Behind the Genius. Oxford Univ. Press, 2018.

[2] Trabalzini, P. Maria Montessori: Through the Seasons of the Method, The NAMTA Journal, Vol. 36, No. 2, Spring 2011.

[3] Kramer, R. Maria Montessori: A Biography. De Capo Press, 1988.

[4] Montessori, M. Formação do Homem. Kirion, 2019

[5] Montessori, M. Mente Absorvente. Portugália/Nórdica.

[6] Shields, J. “Help Me to Help Myself”: Independence and the Montessori Philosophy. Montessori Guide, AMI/USA, 2014. Disponível em: https://montessoriguide.org/help-me-to-help-myself

[7] Lillard, P. Montessori Today: A Comprehensive Approach to Education from Birth to Adulthood. Schocken Books Inc, 1996

[8] Montessori, M. Para Educar o Potencial Humano. Papirus, 2014.

[9] Goertz, D. Children Who Are Not Yet Peaceful: Preventing Exclusion in the Early Elementary Classroom. Frog in Well, 2001.

[10] Kahn, David. Montessori Erdkinder: The Social Evolution of the Little Community. 25th International Montessori Congress Papers, 2005.

[11] Donahoe, Marta. Where is Everybody: Valorization in a World that Could Be. Montessori Life, volume 20, number 3, 2008.

[12] Brown, B. Braving the Wilderness: The Quest for True Belonging and the Courage to Stand Alone. Random House, 2017.

[13] Montessori, M. Erdkinder and the Functions of the University. Publicado como apêndice do livro MONTESSORI, M. Da infância à adolescência. Rio de Janeiro: ZTG, 2005.

[14] Grazzini, C. A Visão cósmica: O plano cósmico, e a Educação Cósmica de Maria Montessori. The NAMTA Journal, Vol. 38, No. 1, Winter 2013. Disponível em português em: http://omb.org.br/wp-content/uploads/2016/04/A-visa–o-co–smica-o-plano-co–smico-e-a-educac–a–om-co–smica-segundo-Montessori.pdf

[15] Montessori, M. Spontaneous Activity in Education – Advanced Montessori Method, V.1. Frederick A. Stokes Co., 1917.

[16] Montessori, M. Creative Development in the Child. Kalakshetra, 1994.

[17] Montessori, M. A Descoberta da Criança: Pedagogia Científica. Kírion, 2017.

[18] Lillard, A. Evaluating Montessori Education. Science 29 Sep 2006, Vol. 313, Issue 5795, pp. 1893-1894 DOI: 10.1126/science.1132362

[19] Lillard, A. Montessori Preschool Elevates and Equalizes Child Outcomes: A Longitudinal Study. Front. Psychol., 30 October 2017 | https://doi.org/10.3389/fpsyg.2017.01783

[20] Montessori, M. The 1913 Rome Lectures. Montessori-Pierson Publishing Company, 2013.

[21] Montessori, M. Educação para um Novo Mundo. Comenius, 2014.

[22] Montessori, M. A Decalogue. AMI Journal 1992/1.

[23] Montessori, M. O Segredo da Infância. Kírion, 2019.

[24] MPPI. Montessori Essentials. Montessori Public Policy Initiative, 2015. Disponível aqui: https://www.montessoripublicpolicy.org/resources

[25] Donahoe, M. Liberty and Hope for the Adolescent: Valorization of the Personality. Clark Montessori Newsletter, Spring 2009. Disponível em: https://cmstep.com/articles/

[26] Donahoe, M. Widening the Circle. Montessori Life, volume 18, number 2, 2006.

[27] Haines, A. Strategies to Support Concentration. The NAMTA Journal, Vol. 42, No. 2, Spring 2017.

[28] Sagan, C. Cosmos – Episode 9 – The Lives of The Stars. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6PHO2DZN30k

[29] Standing, E. M.. Maria Montessori: Her Life and Work. Signet, 1962.

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Fonte: Gabriel Salomão - Lar Montessori

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